Das moratórias

O Banco de Portugal publicou ontem mais alguns números relativos às moratórias concedidas no contexto da crise pandémica.

Tudo somado, estão em causa sensivelmente 45 mil milhões de euros.

As empresas assumem pouco mais de metade deste bolo: 24 mil milhões de euros. Este valor corresponde, números redondos, a 33% de todos os empréstimos concedidos a estes agentes económicos.

Sem surpresa, os estabelecimentos de alojamento e restauração são o segmento de actividade que mais recorreu a este mecanismo de emergência: mais de 56% pediu a suspensão das suas obrigações.

Olhando ao caso das PME - que, em 2018, segundo a PORDATA, eram mais de 99% (!) do tecido empresarial nacional -, mais de 80% do crédito obtido está actualmente a coberto deste regime.

Uma nota breve quanto aos particulares: as moratórias deste grupo ascendem presentemente aos 20 mil milhões de euros, 86% dos quais de empréstimos para habitação, num universo de mais de 400 mil famílias.

Se é certo que só em Setembro é que a maioria destas suspensões de pagamento chegam ao seu termo (e mesmo aí poderão naturalmente ser prolongadas), isto é, já depois de um Verão que se espera de franca recuperação económica (as previsões para este ano da generalidade das instituições políticas e financeiras são surpreendentemente positivas), nem por isso é menos assustador um cenário de incapacidade de cumprimento em larga-escala destas obrigações.

Como notava esta manhã a Helena Garrido, os bancos não se mostram especialmente apreensivos com essa possibilidade. Sabem que, em caso de incumprimento, a conta não ficará por pagar. E sabem também - todos sabemos - a quem, ao fim e ao cabo, será apresentada.

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