Visitas

Assim que cá chega, o meu primo conecta a sua playstation na televisão do quarto da minha mãe. Grande parte do resto do dia, passa-o lá, no quarto, de comando na mão, olhos no ecrã. A sua “visita à casa da madrinha” esvazia-se assim de sentido: a menos que o seu sentido seja jogar playstation numa televisão diferente, aliás certamente pior. A sua visita transforma-se e reduz-se assim à continuação da sua principal ocupação quotidiana. O porquê de semelhante visita, no seu sentido mais tradicional, na sua dimensão mais romântica, quero dizer, quanto à reunião familiar, torna-se residual.
Mas não é tudo. Praticamente assim que cá chega, o meu tio liga o televisor da sala. A tarde, grosso modo, passa-a lá, no sofá, num estado de semi-adormecimento, fazendo zapping a espaços, única acção visível até ao jantar. A sua “visita à casa da irmã” não é, portanto, muito diferente na forma e conteúdo da do meu primo. A relação entre um comportamento e outro parece óbvia. Com reduzida margem de erro, poderei até dizer que, além do mais, um é filho do outro. E falo dos comportamentos.

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