Palavra (s)

Palavras são só palavras, importam quase ou mesmo nada, importa, isso sim, aquilo que se faz com elas ou aquilo que se quer fazer delas, se isto é vero ou não, talvez não venha nunca a saber e ficarei porventura no mesmo pé quanto ao que segue, a saber, as palavras são, até prova em contrário, por definição e índole, por uso, costume e forma, veículos de transmissão de mensagem/ns, sem embargo, isso não será nunca o bastante para que não se constituam noutras alturas como, isso sim, o sumo obstáculo à comunicação interpessoal, ou por outra digo que, ocasionalmente, assumindo-se a jusante justamente como o elo tradutor, o eixo comunicante, a esmerada expressão do íntimo daquele ou daquela que a elas recorre, aquando chegadas ao termo da viagem, isto é, aos tímpanos do ouvinte e interlocutor, as palavras perdem-se, por assim dizer, na tradução, e, de coisa boa que à nascença eram, passam a ser, pelo contrário, a malformação estrangeira, a deformada concretização alheia de um sentimento embrionário que foi parido na boca que mais ou menos aleatoriamente falou e que, eis talvez o busílis, ademais envelheceu no ouvido que mais ou menos aleatoriamente as ouviu, e se de coisa boa falei foi por ingenuidade ou crendíce, ou, menos mal, por esperança esperança, vejam bem esperança nesta coisa outra que somos, pois mais seguro seria ter escolhido adjectivo mais neutro, dizer, na vez de coisa boa, coisa feita, mas lá está, provas fossem precisas, ei-las atropelando-me o discurso, quem sabe no intento de o sustentar.
Enfim.
Talvez que o que possa ter por mais certo seja tão somente que, poesias à parte, a conquista das palavras, ou, melhor, da Palavra, será sempre investida vã, sem fim à vista, e se eterno Se se esta infinidade finalmente se verificar, ou se estiver vivo no dia em que finalmente esteja em posição de avaliar o sim ou não de tamanha questão reduzissem-se as hipóteses de resposta a sim ou não, a preto ou branco, a vivo ou morto, a verdade ou mentira, e estariamos nós bem, e não estaríamos a ter esta conversa, que faça da aparente derrota um real consolo, sacando dessa pretensa infinidade o primo pretexto para nunca deixar de dar o corpo ao manifesto na frente dessa batalha, para jamais me ver derrotado na ilusão da vitória.

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