Andarão as empresas a aproveitar-se?

O contexto criado pela «crise» (ou O contexto criado de «crise») serve que nem uma luva os interesses dalgum patronato mais esfaimado (porventura o mais "competitivo" e "bem-sucedido"). Com efeito, nos dias que correm, em que a «crise» atinge até as maiores empresas das maiores economias mundiais, em que empresas sediadas em Portugal fecham portas a um ritmo diário ou dispensam grande parte do seu pessoal, e em que, numa dinâmica televisivo-social complexa (mas não inédita), não há espaço nem tempo (e vontade?) para analisar os comos e porquês caso-a-caso, torna-se legítima e lógica a dúvida: andarão as empresas (dimensões, ramos e geografias à parte) a aproveitar-se deste contexto?
Num canto de página, até já vi noticiado (falha-me a memória, falta-me o link ou referência: treme-se-me o argumento que nem varas verdes), a propósito de um desses mediáticos despedimentos em massa, que a empresa, quase acto contínuo às referidas rescisões, reabriu vagas para grande parte dos postos anteriormente dispensados ("por vias da actual crise", claro), desta feita com vínculos contratuais muito mais vantajosos para o empregador, e que nem por isso foram menos concorridos, uma vez que o tempo não está para esquisitices, e antes um contrato precário a ganhar mal e porcamente que nada, que há contas para pagar e vícios para sustentar.«
Mas, por falta de prova (que pode acontecer que a memória me esteja traíndo), deixemos de lado o que acabo de dizer. E registemos somente o seguinte: o actual cenário, a que só me referi muito superficialmente, não só facilita, como justifica a redução de pessoal, o que, por sua vez, desnivela consideravelmente os já por si desnivelados pratos da balança do mercado de trabalho e força (ainda mais) o trabalhador a sujeitar-se aos ditâmes da classe empregadora (que a mais das vezes nem será um Lobo Mau).«
O trabalho sempre precário, o salário base cada vez mais baixo, o cada vez mais significativo peso das comissões, os horários cada vez mais alargados, as folgas rotativas, a viatura própria, o cada vez mais frequente computador próprio, e demais requisitos & condições são o pão nosso de cada dia de quem anda à procura de trabalho. Mas a «crise» (sobretudo, mas não só) a isto obriga.

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