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Carta de apresentação

Ex.mos senhores . Em resposta ao vosso anúncio de emprego venho por este meio declarar-me duzentos por cento disponível para tudo e mais alguma coisa no que ao supremo interesse do serviço diga respeito na medida em que os ex.mos senhores me informam que são uma empresa líder de mercado em franca expansão dinâmica e sólida e que além disso oferecem oportunidades de integração e de desenvolvimento de carreira e pacote salarial atractivo e tudo isto, porra! é i-rre-sis-tí-vel pá. . Li com atenção todos os requisitos exigidos e estou que punha as mãos no fogo em como tenho o perfil que os ex.mos senhores desejam e necessitam na medida em que tenho o sexo que querem os anos que querem os anos de escola que querem as línguas que querem a disponibilidade que quiserem e quanto à experiência profissional (ui) não me quero gabar mas isto de levar com uma empresa sólida pelo pacote salarial acima é cá com o je. . Junto em anexo o meu cê vê que é para o caso de quererem os ex.mos senhores ir caga...

Quinta-feira, 21 de janeiro: entrevistas de emprego.

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11H00 Foi ontem (repito para mim mesmo: foi ontem. Repito várias vezes: foi ontem foi ontem foi ontem. Repito e repito porque - não sou capaz de perceber por que motivo - parece que foi há muito mais tempo. Dir-se-ia: uma eternidade). Entrei na sala (uma luz branca que despia, uma lente que ampliava). Ao fundo, vislumbrei o que me pareceu ser uma mulher. Uma voz de facto feminina disse o meu nome. Avancei (os meus passos ressoavam na sala). Detive-me numa fronteira invisível e senti um calor desconfortável. Sabia que era uma mulher que estava diante de mim, e, no entanto, inexplicavelmente, não lhe via as feições com clareza. Era um vulto na sombra da luz branca da sala. A mulher repetiu o meu nome, como quem, para evitar mal-entendidos desagradáveis, quer confirmar tudo muito bem antes de começar. Acho que murmurei qualquer coisa. Sem se levantar (a mulher estava sentada numa cadeira por trás de uma secretária cinzenta), a mulher começou: mediu-me o perímetro corporal, avaliou-me a pe...

Apontamento

É muito difícil sustentar o fim do trabalho assalariado. . Isto é um labirinto visto de dentro. Nada existe além destas paredes, para lá destas paredes espelhadas. Ao fundo de uma curva, nova curva; nova curva, novo espelho. E eu e tu reflectidos neste labirinto de espelhos. O já de si curto horizonte é assim encurtado: no horizonte nada há - à mostra - além do nós-reflectido, do nós-virtual, do nós que olhamos daqui e do nós que nos olhamos acolá. Vemo-nos de fora. Somos um espectáculo a que assistimos - mas de que não nos sentimos autores. . Não digo que a saturação, frustração, etc., não sejam sentimentos comuns, partilhados, enfim, correntes entre as classes abaixadas. Mas daí a ser possível defender o fim do trabalho, daí a que consigas, primeiro, sustentar o Fim propriamente dito, e, segundo, o que para lá Dele viria, que alternativa, que organização social, que meio de sustento - bom, vai uma distância dos diabos. . Quando acordei já estas paredes me cercavam, já estes espelhos ...

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Telegrama 037

037 Quando penso em trabalho, penso na hora em que saio. Outros pensarão porventura na hora em que entram.

De Sem Prego

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"A economia fez o homem à imagem da mercadoria, atribuindo-lhe um valor de uso e um valor de troca. Um sustenta-o a ele e aos seus semelhantes, o outro fixa-lhe um preço, não em conformidade com aquilo que produza mas com a quantidade de bens de que se aproprie." Raoul Vaneigem, A Economia Parasitária , 1999. . . A potente castração da criatividade vital administrada pelo trabalho assalariado abate-se sobre nós de forma especialmente cruel nos períodos de desemprego. Negativo do trabalho, o desemprego isola-nos e inutiliza-nos, na justa medida daquilo que esta mesma sociedade do trabalho define como isolamento e inutilidade. Com efeito, finda a escolaridade, qualquer período em que nos encontremos desvinculados de um compromisso profissional traz no nome o indisfarçável cunho da ordem vigente. Senão vejamos, do ponto de vista social, demográfico e político, o que é um não-estudante que não trabalha? Um desempregado . A locução não podia ser mais expressiva. Mas procuremos sin...

"Trabalhar mais e ganhar menos"

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Ouça-se José Miguel Júdice ( aqui ), que vem juntar a sua voz ao coro dos que ultimamente têm defendido a baixa de ordenados como meio de combate à crise. Pelo meio, ainda apelida esta geração (?) de "hedonista" e fala da necessidade de "adequação" (pela diminuição de vencimentos) ao mercado capitalista. Finalmente, menciona "formação" numa lógica que eu classificaria de surreal: como se maior formação académica significasse melhores condições de emprego. Bom, é ouvir ( aqui ). A redução dos ordenados é então uma medida eficaz e justa para fazer frente à crise? Mas antes, o que é isso de «crise», como começou, quem é responsável, afecta quem, beneficia quem?

Entre a espada e a parede

Para preservar um mínimo de dignidade e auto-estima, e para manter um nível aceitável de imunidade dos devaneios e caprichos da raça empregadora & seu Sistema, torna-se quase obrigatório não possuirmos qualquer bem material - como casa ou carro - que se constitua como um significativo encargo financeiro mensal a longo-prazo. Temos, enfim, de abdicar. Ou de uma coisa, ou de outra. (a menos que sejamos ricos.)

Oportunidades de carreira (1)

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Emprego & C.ª Lda. (1)

Além do verdadeiro terror do desemprego, particularmente opressivo nos casos em que já foram contraídas dívidas, em que já foi hipotecada a vida toda (ou, no mínimo, os próximos 40 anos), ou em que já floresceu a semente do amor & sexo (ou vice-versa) na forma de um rebento a anos-luz da autonomia física e, sobretudo, financeira – importa analisar uma outra face desta moeda de muitas caras que é o, genericamente falando, Mercado de Trabalho: o emprego propriamente dito . O Emprego , porque nem só de falta de emprego se faz e se alimenta esta espessa bruma que nos entristece diariamente, que nos abate e nos moe, que nos distrai, desconcentra e baralha (além do muito distraídos, desconcentrados e baralhados que somos já por defeito, uns mais que outros, é verdade, mas uma coisa não invalida necessariamente a outra). E este emprego que nos calhou em sorte, fruto de anos e ânus de códigos do trabalho discutidos por gente que não trabalha, de políticas de emprego ditadas por pressões e ...

Andarão as empresas a aproveitar-se?

O contexto criado pela «crise» (ou O contexto criado de «crise») serve que nem uma luva os interesses dalgum patronato mais esfaimado (porventura o mais "competitivo" e "bem-sucedido"). Com efeito, nos dias que correm, em que a «crise» atinge até as maiores empresas das maiores economias mundiais, em que empresas sediadas em Portugal fecham portas a um ritmo diário ou dispensam grande parte do seu pessoal, e em que, numa dinâmica televisivo-social complexa (mas não inédita), não há espaço nem tempo (e vontade?) para analisar os comos e porquês caso-a-caso, torna-se legítima e lógica a dúvida: andarão as empresas (dimensões, ramos e geografias à parte) a aproveitar-se deste contexto? Num canto de página, até já vi noticiado (falha-me a memória, falta-me o link ou referência: treme-se-me o argumento que nem varas verdes), a propósito de um desses mediáticos despedimentos em massa, que a empresa, quase acto contínuo às referidas rescisões, reabriu vagas para grand...

"Contra o fim do trabalho"

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Domi nique Schnapper , em 1997: "o cidadão moderno adquire a sua dignidade trabalhando". Ainda Schnapper: "É preciso não pensar contra o trabalho - é utópico e, portanto, não ajuda ninguém (...)". E mais: "Na nossa tradição, o Homem realiza-se por si próprio e exprime a sua plena humanidade através do trabalho". . Não sei o que pensar. Por um lado, o seu discurso é terrivelmente realista. Com efeito, pensar a sociedade ocidental sem trabalho é praticamente impossível. A sua força normativa, sobretudo, é central na nossa organização social. E, fatalmente, apresenta-se como o melhor sistema de distribuição de riqueza. Por outro lado, ou ao mesmo tempo, se é utópico pensar contra o trabalho, falar no trabalho enquanto meio para a dignidade humana é evidentemente irreal, senão demagógico. Além disso, a dupla dimensão a ele atribuída de cidadania-produtivismo tem muitas vezes uma concretização prática diametralmente oposta, constituindo justamente o traba...

A mediação

A mediação é um fenómeno curioso. Ao que parece, uma vez saturado o mercado de trabalho, que tendencialmente se confina ao sector terciário e que remete (ou que vê remetido) o sector primário para a zona cinzenta dos manuais escolares, a imposição capitalista e humana de aumentar sempiternamente os lucros criou o contexto óptimo para que florescesse uma mediação cada vez mais omnipresente e poderosa, posto o que, gradual e inexoravelmente, vê-se o desempregado/assalariado dependente desta mesma mediação. Bem vistas as coisas, a mediação imobiliária das Re/max e das Era é só a face mais visível duma tendência muito mais abrangente, dum aproveitamento espertalhão de larga escala (ou será "empreendedor"?), ou, em certa medida, duma burocratização , que, tal como a Burocracia propriamente dita, muito facilmente se justifica numa sociedade sobrepovoada e vincadamente hierarquizada. Ultimamente, tenho prestado especial atenção ao crescimento exponencial (15 a 20%/ano) das agência...

Sou a favor da pena de morte (por enforcamento)

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Em sentida homenagem àquele sujeito que estava sempre a ver a bola no República, eu, perante o que jaz abaixo, diria: como é que isto é impossível? . (clique na imagem para ampliar) . Isto parece uma caricatura. O empregador quer tudo: licenciatura, experiência mínima de 15 anos de trabalho para e no Egipto, fluência em árabe e, por não ser específico nesse parâmetro e pelas características da função em questão, horários e folgas rotativas (neste particular, como é apanágio e como impõe a lei da procura turística, nas contas da rotação de folgas não entram fins-de-semana e feriados). Perante estes requisitos, o que é que o empregador oferece como remuneração? Uns magníficos 534€! É estupendo, não é? Mas, para não dar azo a ironias de maledicentes que são, isso sim, uns calões que não querem trabalhar e que não sabem o que a vida custa porque os paizinhos sempre lhes providenciaram tudo e mais alguma coisa, o empregador achega ao espectacular ordenado um não menos sensacional subsídi...

«Trainee de produção»

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(Clique nas imagens para ampliar.) . " Exmos. (as) Senhores (as), Após ter lido por um par de vezes o V. anúncio («.Torke recruta trainee de produção», publicado no site www.cargadetrabalhos.net) e de ter debatido junto dos meus o objecto visível e o objecto perceptível do mesmo, bem como o génio que se lhe nota estar por detrás de cada caracterezinho, decidi-me a contactar-vos, ainda que o Asco e a humana Preguiça me tenham assediado para que o não fizesse. Quiçá, dir-me-ão Vocelências, assim o queiram, está claro, o Bom-Senso, esse ilustre desconhecido, me pudesse ele também ter evitado uma carga de trabalhos, bastava para tal que me entorpecesse um pouco mais a mente e me bloqueasse este intuito. Dirijo-me à V. empresa e a propósito deste V. anúncio, mas poderia muito bem fazê-lo para e acerca doutros quaisquer empregadores capitalistas de semelhante calibre. E, ainda que o faça de jeito atabalhoado e, até pelo tom, despretensioso em relação a qualquer tipo de reciprocidade, o...

Hemorróidas vipes

(Queijas, numa manhã de uma quinta-feira de uma semana de um mês de um ano.) 1 A pastelaria ampla e airosa, meio cheia meio vazia, um murmurar de pires e colheres, um tilintar de homens e mulheres. O sol nublado, de cauda de grilo amarela acinzentada, era o maestro da sinfonia da cor da sala. O galão quente e o livro aberto bailavam impudentemente à minha frente. Mas eis que! Entra o vipe: Munt´ importantão, Num Eis-me enfim chegado! Saudando a plebe c´ um gesto da mão. Os gestos largos, A voz grossa, A barba farta, A solene e feia pança de morsa. Os olhos piscos A lamber a situação À cata de cuscos Que lhe passassem cartão. D´ um trago, aspirou o café e a nata. Sem delongas, os olhos fizeram que liam as manchetes do matutino que jazia junto aos restos mortais do pastel. Depois, num ápice, içou o corpo flácido com ares de atarefado. E então: Sai o vipe Num sonoro tropel de banhas, Meneando as horrendas nalgas, Despedindo-se c´ um aceno das gadanhas. Breves momentos passados, a normali...