Não sou, nem gostava de ser

Não sou crítico musical, muito menos músico. O meu conhecimento da matéria é quase nulo, à parte duns títulos de alguns temas, uns nomes dumas bandas, umas poucas de letras, outros tantos álbuns. A minha colecção pessoal é relativamente pequena - ainda que muito variada - e sou filho pródigo da geração que colocou a pirataria ao nível que ela merece: para contar os CD originais que tenho bastam os dedos das mãos e dos pés (sobra o mindinho do pé esquerdo). Sem embargo, não há quem me convença de que Incubus é new metal, conforme é veiculado por alguma imprensa nacional (particularmente nas vésperas das escassas visitas da banda a Portugal). Não compreendo a classificação. Ou sou realmente pouco culto nestas ciências, ou então a feitura duma compartimentação destas dispensa o conhecimento total da discografia da banda em questão. Afinal de contas, a criação dos californianos não se esgota em Morning View ou Make Yourself. A sua abrangência de estilos e incursões é surpreendentemente vasta, desde os primórdios de Fungus Amongus até ao mais recente Light Grenades, passando por S.C.I.E.N.C.E. ou Enjoy Incubus. A atribuição de um estilo particular a uma banda com mais de uma década e meia de trabalho é, logo à partida, inoperante e forçada; e isto é particularmente aplicável ao caso da banda de Brandon Boyd e Mike Einziger. A principal característica da banda parece-me ser justamente a sua perene reinvenção, que se opera tanto de disco para disco, como na sua rara competência e qualidade (muita!) ao vivo (que, por sua vez, reitera a consistência e qualidade da banda, em contraponto com um panorama de tops baseados em montagens sonoras de estúdio, videoclips e mega-produções visuais live). Sendo isto algo que se me afigura indesmentível, por que razão vinga esta classificação junto dos media tradicionais e, por arrasto, dos seus consumidores? A juntar a isto, discordo de algumas vozes que sublinham uma supostamente excessiva exploração da imagem de Boyd como factor de uma certa incoerência (incoerência de quê, na verdade, também nunca entendi). Numa altura em que o video já matou a radio star faz tempo, é impossível dissociar a estética de um grupo da sua produção sonora. Aliás, essa estética constitui uma forma de expressão que complementa a mensagem musical propriamente dita, e isto tanto será verdade no(s) bom(ns) como no(s) mau(s) sentido(s). Quanto a essas miudezas, no entanto, não me alongo. Gostava, isso sim, de frisar a criatividade e versatilidade destes músicos (que muito se viram reforçadas com a inclusão de Ben Kenney, ex-Roots, que veio ocupar o lugar de Dirk Lance), o seu talento individual e de conjunto (que teve, no meu ponto de vista, o seu ponto mais baixo com Morning View) e a sua já respeitável carreira (desde os idos de 1991, na formação original de Brandon, Mike e Jose). E friso estas três qualidades livremente, sem sobrevalorizações afectadas.

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