Os alvos que interessam

Será que o alvo dos atentados em Bombaim foi realmente "a presença ocidental" na cidade? O fundamento de tal assunção é tão válido quanto o desta: os responsáveis por estes ataques visaram os locais que mais provavelmente lhes dariam visibilidade a nível global (e não só local). A visibilidade é concerteza fulcral num crime desta índole. E este cálculo de visibilidade tinha logo à partida uma margem de erro muito reduzida, tendo em conta os critérios da cobertura a acontecimentos passados, como ao tsunami ao largo da Indonésia ou, num sentido quase diametralmente oposto, o terramoto no coração do Paquistão (que, por sua vez, interessa comparar ao atentado no Marriott, na capital do mesmo país). A frequência de ocidentais nos locais atingidos era portanto uma variante da equação que não podia ser descurada. E isto desmente, em certa medida, a visão veiculada pela comunicação social do lado de cá (geografias à parte), a qual comecei por citar (nota ainda para a seguinte afirmação: "os terroristas queriam perpretar outro 11 de Setembro na Índia(...)").
Existem diversos dados que sustentam este tipo de afirmações, especialmente à luz daquilo que ficou gravado na pedra do dramático derrube das Torres Gémeas; no entanto, estas afirmações não deixam de ser a expressão de uma postura não só sensacionalista e afectada, mas também (chamemos-lhe assim) civilizacionalmente egocêntrica.
Não é provável que esta linha editorial responda somente ao conceito de proximidade que as regras mais básicas de jornalismo impõem. A dimensão e, sobretudo, a abrangência destes acontecimentos geram um sem-número de interpretações e usufrutos, os quais são sempre datados e contextualizados conforme as exigências e interesses do agenda setting. Este fenómeno, por sua vez, é moldado a bel-prazer pelos barões dos grandes lóbis, ou não se contassem as agências noticiosas pelos dedos das mãos e não fossem elas a fonte quase exclusiva das redacções nacionais e internacionais. Esta perspectiva, sem querer parecer excessivamente conspiratória, obriga a uma crítica atenta às parangonas e às letras gordas que muitas vezes nos atrapalham o passo e entorpecem a vista com a capa, a máscara e os collants da Era da Informação.
O número total de mortos ascende a 195, segundo a polícia indiana. Que repousem em paz.

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