E por falar nisso - já viste isto dos Descobrimentos? (1)

Por entre as brumas da avassaladora cobertura jornalística da presença da selecção nacional de futebol na África do Sul é possível vislumbrar - aqui e ali - evidências de que os chamados Descobrimentos ocupam ainda no imaginário colectivo português um lugar de orgulho e honra. Foi - vai-se dizendo (como quem relembra) - a "época áurea da História Portuguesa" - onde, presume-se, urge regressar na forma de pontapé na bola (e não tanto, como nesses saudosos idos, por meio de bordoadas no preto; mas lá iremos).
Será caso para dizer que muitíssimo bem terá resultado a viril propaganda salazarista, hábil em reescrever estórias e em espartilhar o conhecimento, e além disso aparentemente sabedora dos sentimentos mais íntimos do seu rebanho - e aliás digna herdeira de cinco séculos do mais elegante racismo das Cortes imperialistas. De resto - e atalhando - a democracia trouxe mais mudanças de cosmética que de conteúdo propriamente dito. Justiça se lhe faça: nisto de manipular passados & presentes não há pai para ela.
Isto para trazer à baila a temática - justamente - dos Descobrimentos. Pelo tom do discurso já se vai adivinhando que por estas bandas não se afina pelo diapasão da apologética oficial. E desde já um remate do meio da rua: a Epopeia que o Camões (esse vendido) cantou foi - isso sim - um crime de proporções indizíveis, ou por outras palavras - uma grandessíssima filha-da-putice.
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(continua, eventualmente)

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