O enterro de Saramago

Morreu Saramago e logo toda a sorte de figuras públicas se condói e se verga perante o "génio literário" que "deixou o país órfão". Mostram-se sérios quando o fazem. Mostram-se também com pressa. Não sei se por trás deste movimento existe uma vontade consciente, mas este desfile de frases convencionais reescreve (ainda o homem não foi a enterrar) a História. Uma declaração de pesar, nesta altura, coloca o declarante ao lado do defunto escritor. Agora que morreu, Saramago já não é comunista, deixou de ser ateu e, o que é mais notável, retornou até à pátria. Tudo fica bem quando alguém morre. Em termos de respeito e consideração populares, morrer foi de longe a melhor coisa que podia ter acontecido a José Saramago.

Mensagens populares deste blogue

Algo de errado se passa.

Desencontro, ou Enquanto as ervilhas cozem

Os números COVID-19: ou latos em excesso, ou inconsistentes, ou pouco consolidados