Diário de um índio: puta que pariu as vuvuzelas

Cada Estado tem as suas manhas para incutir nos governados um morno e artificial sentimento de pertença e coesão nacional, coisa muito porreira quando o que se pretende é fazer esquecer que as desigualdades socias estão aí vivinhas da silva e prontas para durar (a este propósito, vide entrada anterior). Com efeito, na lógica político-partidária das democracias amodernadas, um governo terá tanto mais sucesso quanto mais profundamente conheça o fraco dos seus eleitores.
No que concerne às manhas lusas, o decreto-lei do Governo da República - em melodiosa harmonia com a histórica subtileza portuguesa - ordena que se bufe numa corneta cor-de-laranja. A grei obedece, num arroubo de patriotismo cada vez mais frenético. Contra o tradicional bota-abaixismo português, a massa responde com «energia positiva». Perfeitamente alheia a todo este movimento, e assistindo a tudo muito bem instalada no camarote presidencial, uma gasolineira esfrega as mãos de contente.
Mas há que dar o braço a torcer: fazer de uma selecção de futebol tão mediana o fulcro de tamanha manipulação requer uma notável habilidade. Mesmo tratando-se de um povo tão estúpido.

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