A traição da Beleza

Lúcio não concordou com a atribuição do prémio de Melhor Jogador em Campo a Cristiano Ronaldo. De facto, para quem assistiu à partida, destacar desta maneira o avançado português equivale a apagar dos registos histórico-mitológicos do Futebol o mui apreciável duelo travado justamente entre os dois capitães, em particular durante a segunda metade do desafio. Simultaneamente (se é que é possível), esta atribuição define Ronaldo como vencedor desse particular e necessariamente Lúcio como aquele que saiu vencido. E, mesmo sendo isto falso, não se trata, porém, de "justiça", como disse Lúcio. Trata-se, isso sim, de traição à Beleza do Jogo. Qualquer defesa anseia defrontar o melhor dos avançados. E vice-versa. Num confronto eminentemente físico, imperou sempre a lealdade. O talento dos dois especialistas fez o resto, naquilo que foi, segundo a expressão consagrada, um "espectáculo dentro do espectáculo". Cada músculo dos dois craques transpirava prazer, mesmo quando o cansaço já era indisfarçável.
Essa beleza fundamental não se traduz em números ou em prémios. Antes pelo contrário. Dir-se-ia que, abafado por estatísticas e prémios individuais (inconsequentes, ainda para mais), o brilho do Jogo se desvanece. E isto, para os amantes do Futebol - como são, presumo, Lúcio e Ronaldo - é que é injusto.

Mensagens populares deste blogue

Algo de errado se passa.

Desencontro, ou Enquanto as ervilhas cozem

Os números COVID-19: ou latos em excesso, ou inconsistentes, ou pouco consolidados