Lamento de um traidor

Os dias sucedem-se. Não há dias novos: só novos dias. A noite não passa de uma penumbra coada pelas frinchas cúmplices dos estores e, compassada pelo desfile infinito de luzes projectado diagonalmente nas paredes, não me deixa descansar. Os dias passam-se entre a mesa de comer sem fome e o sofá de ver televisão sem vontade. À cama retorno, ao ritmo dos restantes, sem sono. A vida afigura-se-me como uma tortura paciente e velada, e por isso mesmo mais exasperante. Peço-me desculpa vezes sem conta, na vã esperança de algum dia poder vir a recomeçar. No intervalo, duro.

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