Ninguém me representa

Os governos democraticamente eleitos em sufrágios universais representam a vontade popular e têm como missão primeira defender os interesses da população.
Então para que servem os sindicatos?
Por exemplo, o Governo propõe um aumento salarial de 2,9%. Supostamente, a representação popular a que aludi dispensa a intervenção de outro agente, como, no caso, os sindicatos, porque isso constitui uma sobreposição de objectivos e funções. Afinal de contas, o Governo apresenta este valor enquanto concretização da melhor defesa possível do bem-estar dos eleitores, enquanto a maior subida salarial possível a bem das contas estatais. Ou isso se espera.
Os sindicatos, neste caso particular, contrapõem com aumentos na ordem dos 3,5%. O que significa esta diferença de propostas? Que os sindicatos representam melhor os interesses dos trabalhadores?
Poder-se-á falar numa complementaridade entre governos e sindicatos. Mas as inter-relações entre estes são, em regra, de confronto e discordância. Quando "se sentam à mesa das negociações", sindicatos e governos representam dois lados opostos. O exemplo mais gritante deste antagonismo é o da contestação dos professores.
Poder-se-á dizer que os sindicatos representam os interesses dos trabalhadores quando as propostas e medidas dos governos os põem causa. Mas isso significa que os governos não estão a defender os interesses dos cidadãos. E contraria a noção de representação da vontade popular que está na base do regime democrático.
Também se poderá dizer que os governos aos eleitores, os sindicatos aos trabalhadores. Mas isso será falar em pessoas diferentes? Ou votantes e empregados são, a mais das vezes, o mesmo grupo?
A profissão de sindicalista encerra em si uma suprema contradição: cumprir as funções significa esvaziar de sentido o cargo.
A super-população justifica o regime democrático, no sentido em que é a melhor opção governativa nestas condições. A super-população obriga ainda a burocracias várias, como são muitas vezes os sindicatos, uma vez que sem a eleição de um porta-voz a comunicação torna-se impossível.
Mas nada disso quer dizer que governos democráticos ou sindicatos sejam coisas boas.
Afinal de contas, nestes últimos anos, os nossos interesses e direitos têm sido bem defendidos?

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