E quando a guerra acabar...?

Já anoitecera e havia um cheiro a castanhas na travessa do Ateneu. Uma chuva miudinha dava um brilho de invernia aos edifícios oitocentistas da Baixa e convidava aos cafés. Era noite de circo e aquelas ruas estavam cheias - e que belas ficam aquelas ruas assim. A bicha ia do Coliseu ao Rossio. A meio caminho, na mesa única da esplanada de um pequeno tasco, três homens tocavam guitarra. Um deles também cantava. Na mesa, contei nove garrafas de cerveja. Nenhum copo. Do burburinho da fila e do ruído automóvel das ruas paralelas, erguia-se a voz rouca do cantor amador. A rouquidão era a expressão do seu sofrimento, era o prolongamento da sua revolta.
E dizia assim:
.
"Eu nasci pra ser soldado
Eu nasci pra ser soldado
Eu nasci pra ser soldado
E quando a guerra acabar...?"

Mensagens populares deste blogue

Algo de errado se passa.

Desencontro, ou Enquanto as ervilhas cozem

Os números COVID-19: ou latos em excesso, ou inconsistentes, ou pouco consolidados