A segunda lágrima

O Natal é por excelência a época da segunda lágrima do kitsch kunderiano: que coisa bonita, comovermo-nos como toda a humanidade se deveria comover com a solidariedade para com os mais desgraçados e a sua pobre Consoada.
Esta lágrima é sobretudo vertida no sofá, frente ao televisor.
O espectáculo entra timidamente em cena em meados de Outubro, e, num crescendo imperceptível, atinge o histérico apogeu na primeira semana de Dezembro.
Importa, além do mais, convencer as pessoas em tempo útil.
É tamanha a pressão do kitsch natalício, em especial da segunda lágrima, que esta é também uma época de uma certa anti-moda: no seu manifesto, repudia o consumismo, destrata o Pai Natal, brame pelo Menino Jesus, urra pela festa da família. Isto na sua variante mais difundida.
Como em tanta coisa, vêm ao de cima posições extremistas.
Como sempre, o debate é nado-morto, as gentes reduzem a conversa a uma guerra de volume e perdigotos, e o trigo e o joio apertam-se num amplexo. Em natais vindouros, só um extremista ou um lunático é que ficarão surpreendidos quando tudo se repetir.

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