Porra, é do caraças

Com a proverbial pachorra dum Recepcionista de 2.ª no pico da chamada «época baixa» - estupenda época! -, chafurdei um bom par de horas no lodo dos blogs do Parlamento, esse barrento espelho de lama onde o vácuo mental dos nossos sumos representantes brilha com especial pujança. E fi-lo porque aqui há dias deparei-me, igualmente nestas 8 horas de profissional preguiça, com o blog de Marta Rebelo (para os que não sabem - seus grandes burros! - é deputada socialista - e, já agora diga-se, bem bo...nita), o que foi para mim uma experiência de memorável nojo. Então pensei: se o daquela é daquele calibre, como serão os dos outros?
E então deparei-me com isto. Com o singelo título de "A página A4...", onde, até para sublinhar a singeleza da coisa, não faltam as reticências, o post do deputado - também PS, que engraçado! - Bravo Nico (o estiloso da fotografia) refere-se a um fenómeno que, sem ironias, julgo ser muito pertinente: o da, usando as suas palavras, "particular aversão de muitos portugueses para com a leitura demorada, atenta e reflectida". Este assunto é trazido à baila a propósito de uma solicitação do líder do Grupo Parlamentar do PSD. Solicitou ("quase que exigiu", citando o bravo Bravo Nico) o senhor líder dos laranjas - aquilo com o Menezes não tinha passado a azul? - que o senhor Primeiro-Ministro lhe disponibilizasse "toda a informação financeira relativa aos investimentos públicos", mas com uma pequena condição: "toda esta informação deveria ser inscrita numa simples página A4. Uma simples página A4!". É, de facto, caricato. É caricato, ridículo, revelador. É, portanto, mais que justificado o ponto de exclamação do deputado Nico. No entanto, a análise do deputado alentejano é, também ela, caricata e reveladora (não chega a ser ridícula, a meu ver). Para ele, esta "curiosidade parlamentar" (!) "não deixa (...) de deixar transparecer uma realidade bem mais preocupante que o combate político na Assembleia da República" - mas a que é que este gajo se refere? Combate político...? Aonde!? -. Nessa linha de pensamento, prossegue o seu texto já com um outro objecto de análise: "o cidadão comum" e a sua "aversão para a leitura demorada". Calma lá. Ou eu percebi mal, ou não estavamos a falar de nenhum "cidadão comum". Estavamos a falar, isso sim, do líder do Grupo Parlamentar do PSD, partido que arrebanha regularmente mais de 30% dos votos nas urnas! Considerar esta condição uma "curiosidade parlamentar" que, ainda que plena de "combate político", não ofusca a questão de fundo que é a "aversão para a leitura demorada" do "cidadão-comum" - é do caraças! Tudo isto se me afigura revelador de uma falta de sentido crítico atroz, de uma análise de exasperante banalidade e superficialidade, de uma visão estéril, domesticada e leviana, o que, vindo de um deputado e professor universitário, é triste - e talvez já nem devesse surpreender. Enfim, dificilmente se rebate (eu estou, note-se, de acordo) aquilo que, a partir desta altura, diz o deputado eborense. Mas, porra, pede-se mais.
Este senhor Nico e a outra senhora Marta (lá está ela ali em cima, ó, na Assembleia) são 2 num universo de 230. Estes dois deputados representam, quando muito (um blog é só um blog), as suas próprias pessoas. Aventar que por aqui se vê a choldra que é a AR é exagerado, mesmo se lhe juntarmos a mais recente polémica relacionada com as faltas dos deputados - onde, aliás, Marta Rebelo se destacou. Mas, porra, é do caraças!

Mensagens populares deste blogue

Algo de errado se passa.

Desencontro, ou Enquanto as ervilhas cozem

Os números COVID-19: ou latos em excesso, ou inconsistentes, ou pouco consolidados