006 Em tese, é tudo muito bonito. Lafargues, Blacks & afins - OK, está tudo muito bem. Mas, sei-o por experiência própria, não se pode cagar no trabalho. Mesmo em época-baixa.
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(Actualização a 23/12: v. esclarecimento em Achegas.)
Algo de errado se passa. (O quê, em rigor – de tanta coisa – nem sei bem. Mas) Digo-o com toda a sinceridade e determinação, com um arrufado sentimento de missão à mistura, como se dependesse unicamente de mim, num fardo hercúleo sobre os meus inexperientes ombros, todo o futuro da nação portuguesa: algo de errado se passa! Tenho que denunciar este crime hediondo. Tenho que trazer luz a esta sombria hecatombe, repetidamente dissimulada sob os focos de Suas Senhorias os estúdios televisivos, sob as tribunas de Suas Sumidades os nossos representantes, sob as indecentes camadas de pó-de-arroz de Suas Excelências as nossas vedetas! Ou muito me engano, ou todo este meu apreciável esforço já vem fora de tempo. Ou muito me engano, ou já nos encontramos afundados por completo no peganhento lamaçal da nossa corrupta e bafienta sociedade. Ou muito me engano, ou já é tarde de mais! Oh! e a virulenta censura a que serei sujeito e a perseguição mortal em que me verei protagonista, e o ataque rancor...
1 Tomado de forma lata, o Comentário acerca das Legislativas de 18 de Maio, em geral, e dos resultados do partido Chega! (CH), em particular, tem dado corpo a duas grandes correntes, chamemos-lhes assim, analíticas: a corrente forense e a corrente ética . A primeira procura a culpa . Bem entendido, a culpa pela ascensão (ou pela consolidação, como se queira pôr) do CH. A segunda organiza os acontecimentos segundo uma lógica de Bem e Mal . E votar no CH foi, ou é, inequivocamente, um mal . Uma e outra são, é claro, interdependentes. Não raro surgem juntas, ou uma entronca na outra, ou aquela é premissa desta. Enfim, de uma maneira ou de outra, ambas julgam qualitativamente um voto e há nisso, mesmo que em diferentes graus, uma carga moral(ista). Ora, isto não se observa senão relativamente ao voto CH. E sim, há boas razões para isso – tão boas que me escuso de as elencar. Mas nem por isso deixa de ser um dado que merece reflexão. Outro dado: quando o emissor do Comentário aq...
O dia amanheceu-se-lhe de bexiga por vazar. Estacou à borda da retrete: o olhar absorto perdido nas juntas dos azulejos azul-cueca. Por razão nenhuma deu uma guinada no olhar e então reparou numas farripas quase invisíveis de pintelhos muito familiares naufragadas à boca do ralo do polibã. Hoje é dia, terá pensado, enquanto sacudia os derradeiros pingos de mijo. Deu meia-volta e abriu a torneira do lavatório para lavar os dentes. Disse em voz alta para o espelho: Hoje é dia pá. Sabia os dias de cor e desde há muito que penugem aparada era igual a queca programada. Disse outra vez: Hoje é dia. Repetid as tamanhas palavras, porém, deu-se conta de que a presença daqueles pêlos negros na superfície sudada do polibã o incomodava. E muito. Rapadas no banho matutino, aquelas migalhas capilares eram um post-it onde a receptividade carnal da fêmea se declarava alto e bom som, lembrança dolorosa de uma líbido domesticada que o azucrinava. Indignou-se: Isto assim não pode ser pá (continuava a dir...