006 Em tese, é tudo muito bonito. Lafargues, Blacks & afins - OK, está tudo muito bem. Mas, sei-o por experiência própria, não se pode cagar no trabalho. Mesmo em época-baixa.
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(Actualização a 23/12: v. esclarecimento em Achegas.)
Algo de errado se passa. (O quê, em rigor – de tanta coisa – nem sei bem. Mas) Digo-o com toda a sinceridade e determinação, com um arrufado sentimento de missão à mistura, como se dependesse unicamente de mim, num fardo hercúleo sobre os meus inexperientes ombros, todo o futuro da nação portuguesa: algo de errado se passa! Tenho que denunciar este crime hediondo. Tenho que trazer luz a esta sombria hecatombe, repetidamente dissimulada sob os focos de Suas Senhorias os estúdios televisivos, sob as tribunas de Suas Sumidades os nossos representantes, sob as indecentes camadas de pó-de-arroz de Suas Excelências as nossas vedetas! Ou muito me engano, ou todo este meu apreciável esforço já vem fora de tempo. Ou muito me engano, ou já nos encontramos afundados por completo no peganhento lamaçal da nossa corrupta e bafienta sociedade. Ou muito me engano, ou já é tarde de mais! Oh! e a virulenta censura a que serei sujeito e a perseguição mortal em que me verei protagonista, e o ataque rancor
Estava decidido a escrever um texto com o título «Enquanto as ervilhas cozem». Tinha acabado de preparar o tupperware com o pequeno-almoço de amanhã, antes aquecera já o jantar do F., pusera na máquina-da-loiça as caixas da comida de hoje, dera volta à areia do gato, despejara no lixo um resto de bacalhau com broa precocemente azedado. (Ainda bem que não tinha feito – não fizera – mais nada antes, já não suportava mais um pretérito mais-que-perfeito.) Sentia-me capaz de uma dessas filosofias quotidianas que, sob a concretude dos gestos banais, descobre um substrato profundo e inspirador e belo. Enquanto as ervilhas cozem… Começaria assim, para situar o texto num plano paralelo ao das coisas comuns e daí elevá-lo, a princípio com candura, depois com rasgo, aos éteres da Poesia e da Arte. Começaria assim – Enquanto as ervilhas cozem – para sugerir uma imagem, um som de fundo, para que das palavras se desprendesse um travo de dia-a-dia que o Leitor logo identificasse, com que logo se
Foi noticiado, há cerca de uma semana, a trágica morte de uma criança de seis anos num hospital em Lisboa. A RTP titulou: "Morreu uma criança de 6 anos com teste positivo à covid-19" . Tanto quanto sei, e mau grado algumas notícias sobre a investigação levada a cabo pela PGR, não se apurou, até hoje, a causa da morte. E, no entanto, logo ficou nota de que este menino entrou na soma de óbitos da pandemia do novo coronavírus: a "quarta morte" na faixa etária dos 0-9 anos. Olhando ao boletim de ponto de situação da DGS desse dia , não é possível confirmar que foi essa a contabilização feita - a escala do gráfico da segunda página inviabiliza essa leitura. Mas, se bem me lembro, o critério de mortalidade em vigor durante o período de pandemia que Graça Freitas foi descrevendo logo nas primeiras semanas da crise pandémica era, em síntese, este mesmo: todos os óbitos com diagnóstico de infecção por SaRS-CoV-2 são registados como óbitos COVID-19. Dizia a notícia que "