Fóruns de opinião pública

Os fóruns de opinião de ouvintes e telespectadores são, apesar de tudo, um dos melhores meios de expressão pública existentes. Nestes fóruns, o cidadão anónimo tem valioso tempo de antena para emitir a sua opinião pessoal, frequentemente desprezada e manietada. Da posição de mero espectador de um imenso espectáculo radio-televisivo que, apesar de fugir de todo ao seu alcance e, tantas vezes, vontade, determina em muitos aspectos o seu dia-a-dia em casa, no trabalho e no descanso, o Zé Ninguém vê-se assim com a chance de dizer de sua justiça a muitos outros zés e, a tanto possa a esperança, uns poucos de politicões.
Como em tanta outra coisa, o seu uso deve ser regulado pelo bom-senso e pertinência, não vá dar-se azo a que se restrinjam as condições de participação e transmissão, ou, até, se encerrem estes espaços.
O perigo de semelhante mudança acontecer parece-me real, especialmente no caso dos fóruns da rádio e da televisão públicas, que, ainda que pareça certo que se regem pelos mesmíssimos princípios dos privados (e terão eles espaço para não o fazer, especialmente a RTP?), sempre têm que responder aos apelos e queixas dos contribuintes, em geral exemplarmente amplificados pelos Provedores. Acima disto, importa ter em conta que muitas formas de conservadorismo puritano se mantêm viçosas e relativamente activas na nossa sociedade, as quais podem muito bem constituir o fundamento de quaisquer governos ou lóbis interessados em cercear ou condicionar (ainda mais) a voz popular.
Evidentemente, refiro-me apenas à forma dessa participação e nunca ao seu conteúdo. Trata-se apenas de não dar pretextos a classes ou pessoas que, sem grande porquê e com o maior dos descaramentos, sempre vão tornando públicos alguns intuitos ditatoriais, só a muito custo domesticados e ocultados, só a muito custo disfarçados e desmentidos.
Isto parece-me, com as devidas salvaguardas, igualmente aplicável à blogosfera.

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